As tribos urbanas, também chamadas de subculturas ou subsociedades[1] (ou metropolitanas ou regionais[2]) são constituídas de microgrupos[3] que têm como objetivo principal estabelecer redes de amigos com base em interesses comuns.[4] Essas agregações apresentam uma conformidade de pensamentos, hábitos e maneiras de se vestir.[5] Um exemplo conhecido de tribo urbana são os punks.[6] Segundo Michel Maffesoli, o fenômeno das tribos urbanas se constitui nas "diversas redes, grupos de afinidades e de interesse, laços de vizinhança que estruturam nossas megalópoles. Seja ele qual for, o que está em jogo é a potência contra o poder, mesmo que aquela não possa avançar senão mascarada para não ser esmagada por este".[7]
A expressão "tribo urbana" foi criada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli, que começou usá-la nos seus artigos a partir de 1985. A expressão ganha força três anos depois com a publicação do seu livro O Tempo das Tribos: O declínio do individualismo nas sociedades de massa.[8]
Cultura Informal
A cultura das tribos urbanas é informal,[2] bem diferente das organizações ligadas ao "burguesismo"[9] permeadas pelo nosso taylorismo ocidental, que rejeita a emoção e os sentimentos coletivos (coisa típica de uma cultura empresarial[10]). O neotribalismo[6] pratica uma "solidariedade orgânica" que vai de encontro a essa "solidariedade mecânica dos indivíduos racionais"[11] do capitalismo.
Como metáfora explicativa, Maffesoli invoca dois deuses do panteão Grego: Apolo e Dionísio - duas figuras opostas;Apolo, representando a razão e Dionísio, representando o mundano, o "terreno".[12]
Esses grupos não têm projetos ou objetivos específicos[13] a não ser pelo partilhamento, no "aqui-agora".
Proxemia
As tribos reforçam "um sentimento de pertença" e favorecem "uma nova relação com o ambiente social".[14]
A proxemia das tribos é uma faca de dois gumes. Ela pode, por um lado, ser expressa pela tolerância.[15] Um exemplo disso é a tribo dos clubbers. Incentivados pela filosofia P.L.U.R. - Peace, Love, Unity & Respect[16] - os frequentadores das raves são incitados a respeitar o "meio ambiente e outras pessoas, independente de credo, raça, religião, gostos e opiniões".[17] A outra face dessa "homossocialidade" tribal é a exclusão do "diferente" a partir da violência, coisa bem presente no fanatismo e no racismo de algumas tribos.[18] Os boneheads em geral enquadram-se aí, tendo como inimigos declarados os negros, estrangeiros, gays, comunistas e militantes ativistas de extrema-esquerda (anarcopunksHYPERLINK l "cite_note-19"[19] e redskins, por exemplo).
Não-Ativismo
O neotribalismo não se opõe frontalmente ao poder político como o faz o proletariado. Isso não quer dizer, no entanto, que as tribos urbanas sejam passivas[20] ou que não prestem atenção no jogo político.[21] O que as tribos fazem é evitar as formas institucionalizadas de protesto (comícios, greves e piquetes) das quais o proletariado se vale.[22] A resistência das tribos é mais "subterrânea"[15] valendo-se - por exemplo - da música para afirmar sua não-adesão à "assepsia social" dos mantedores da Ordem.[23] Essa "desqualificação" praticada pelas tribos, com o tempo, "corrói progressivamente a legitimidade do poder estabelecido".[15]
Fluidez & Estabilidade
Maffesoli destaca algo paradoxal nas tribos urbanas. Elas são instáveis e "abertas",[24] podendo uma pessoa que participa delas "evoluir de uma tribo para a outra".[25] Por outro lado, essas tribos alimentam um sentimento de exclusividade[26] e um "conformismo estrito" entre seus participantes.[24]
Críticas
Convivência
Há de se questionar até que ponto é verdadeira essa "convivência" entre tribos apregoada por Maffesoli.[27] Rivalidades entre tribos urbanas (mods e rockers, por exemplo) têm sido registradas desde os anos 1960 na InglaterraHYPERLINK l "cite_note-28"[28] e, desde então, os conflitos vem crescendo bastante. Num artigo escrito para a Rolling Stone americana (dezembro de 1980), Dave Marsh lamentava a falta de união entre punks e headbangers na década de 1980.[29] Os conflitos recentes entre punks e carecas paulistas,[30]HYPERLINK l "cite_note-31"[31]HYPERLINK l "cite_note-32"[32] cujo o fato mais marcante foi quando carecas do ABC obrigaram dois jovens a pular de um metrô em movimento,[33]
Como assinalara o próprio Maffesoli, o pós-modernismo retoma muitos elementos do pré-modernismo, mas já corrompidos por residuos do modernismo, a exemplo do rock.
Filmes relacionados às tribos urbanas
Clubbers
Better Living Through Circuitry (1999), de Jon Reiss.
Documentário sobre a música eletrônica dos anos 1990. Inclui entrevistas com Moby, Roni Size e integrantes do The Crystal Method.
A Festa Rave (2000), de Greg Harrison.
Filme que se passa na maior parte do tempo em uma rave underground em San Francisco (EUA).
Headbangers
This Is Spinal Tap (1984), de Rob Steiner.
Documentário de uma banda fictícia (Spinal Tap) que faz paródia dos excessos do heavy metal.
Heavy Metal (1988), de Helen Gallacher.
Exibido originalmente no Arena, programa de TV da BBC. Inclui apresentações exclusivas do Metallica, Motörhead e Napalm Death.
The Decline of Western Civilization Part II: The Metal Years (1988), de Penelope Spheeris.
Documentário centrado na cena glam metal de Los Angeles.
Metal: A Headbanger's Journey (2005), de Sam Dunn.
Antropólogo canadense investiga sua própria tribo urbana.
Heavy: The Story of Metal (2006), de Mike Warren.
Produzido pela VH1 - um canal "primo" da MTV - e exibido em quatro capítulos.
Murder Music: Black Metal (2007), de David Kenny.
Escrito pelo jornalista Malcolm Dome. Relata a história do black metal, privilegiando as bandas norueguesas.
Hippies
Monterey Pop (1968), de Don Alan Pennebaker.
Easy Rider - Sem Destino (1969), de Dennis Hopper.
Woodstock (1970), de Michael Wadleigh.
Punks
Jubilee (1977), de Derek Jarman.
Primeiro filme sobre punks.
Punk: Attitude (2005), de Don Letts.
Documentário sobre a cultura punk.
Botinada (2006), de Gastão Moreira.
Jornalista e ex-VJ da MTV traça a evolução da cultura punk no Brasil, com destaque para a cena paulista.
The Decline of Western Civilization (1981), de Penelope Spheeris.
Documentário pioneiro sobre o punk rock americano, focando o cenário da cidade de Los Angeles. Inclui apresentações do Black Flag, Circle Jerks, The Germs e outros.
Another State of Mind (1984), de Adam Small e Peter Stuart.
American Hardcore (2006), de Paul Rachman.
Conta a história do hardcore punk americano durante a era Reagan.
Sid e Nancy - O Amor Mata (1986), de Alex Cox.
Baseado no romance trágico entre Nancy Spungen e Sid Vicious, o falecido baixista dos Sex Pistols.
The Decline of Western Civilization Part III (1998), de Penelope Spheeris.
A diretora volta a retratar a cena punk de Los Angeles vinte anos depois.
The Filth and the Fury (2000), de Julien Temple.
A história dos Sex Pistols, tendo como pano de fundo a caos social da Inglaterra do final dos anos 1970.
Conta a história de uma familia punk
Skinheads
Bronco Bullfrog, (1969), de Barney Platts-Mills.
Primeiro filme realizado sobre a cultura skinhead, mostra jovens suedeheads ingleses do final dos anos 1960.
Skinhead Attitude (2003), de Daniel Schweizer.
Documentário sobre a cultura skinhead desde sua origem até os dias atuais.
This Is England (2006), de Shane Meadows.
Filme sobre a história de jovens skinheads da Inglaterra em julho de 1983.
Oi! Warning (1999), de Ben Reding e Dominik Reding.
Filme sobre skinheads apolíticos da Alemanha.
Skinhead Cross Culture (2009), de Bryan Davis.
Gay Skinheads (2003), de Karl Hayden.
Documentário que entrevista skinheads ao redor da Europa, e explora a aparente contradição entre ser gay e viver como um skinhead.
16 Anos de Alcool (2003), de Richard Jobson.
Dog Years (1997), de Robert Loomis.
Made in Britain (1982), de Alan Clarke.
Filme feito para um canal de TV inglês, sobre um jovem bonehead (Tim Roth) na Inglaterra do início dos anos 1980.
Skinhead - A Força Branca (1992), de Geoffrey Wright.
Um dos primeiros trabalhos do ator Russel Crowe, esse filme australiano retrata a violência em torno de uma gangue bonehead.
Um Skinhead no Divã (1993), de Suzanne Osten.
Filme sueco que trata da relação conturbada entre um bonehead neonazista e seu psicanalista judeu.
A Outra História Americana (1998), de Tony Kaye.
Tolerância Zero (2001), de Henry Bean.
Inspirado por fatos reais, o filme conta a história do paradoxal Danny Balint (